CADASTRE-SE

Curso atinuké: sobre o pensamento de mulheres negras

Roselaine Domingos de Castro Diaz

Dar voz e vez a mulheres negras, bem como acolhe-las, lhes fazendo refletir sobre seu
cotidiano, sua vida, as relações estabelecidas em sociedade e um universo de temas que estão
intrinsecamente ligados as história destas mulheres negras. Parece redundante, mas foi
exatamente iso que aprendi durante esse ano a cada sábado que me reunia com as ATNIUKÉS para refletir e discutir sobre os textos lidos. Algumas pessoas irão contestar dizendo que já temos voz, sim, concordo, mas nesse caso, me refiro a importância desse lugar, onde não é alguém que fala por nós, mas somos nós mesmas refletindo, ponderando, trazendo nossas histórias e nos posicionando. Tudo à luz de mulheres negras na sua maioria brasileiras.

Cada sábado era um momento único de fortalecimento, cada texto percebe-se que foi pensado e selecionado com zelo e cuidado, visto que a temática envolvendo as mulheres negras são sempre delicadas e necessárias – “para que despierten las mujeres todas”!

Ser vista como mulher que pensa e discute com seus pares, questões peculiares e que dizem respeito somente a elas. Poder pensar sobre questões de saúde, política, sobre a solidão das pretas, sobre amor e sexualidade, entre muitos outros temas. ah a mulher negra e suas “facetas” é um universo inteiro me uma mulher só. Mas o curso vai além, trata os temas com cunho “acadêmico” com textos importantes, mas que por sua vez, não estão dentro da academia, mas passam a ser introduzidos ao meio acadêmico através da nossa voz. É sabido que o meio acadêmico traz consigo e fortalece o pensamento eurocêntrico, mas para nós já basta! O curso Atinuké vem para ampliar repertório, nos empoderar, fortalecer elevar outro conhecimento para dentro das universidades a partir do pensamento de mulheres negras.

Além de ler o material ofertado pelo curso, que ampliou o meu repertório para além das produções acadêmicas, houve um grande movimento me mim para que eu buscasse outras leituras como: “o que é lugar de fala” de Djamila Ribeiro, “Os escritos de uma vida” da querida Sueli Carneiro que tive o prazer de conhecer através desse grupo lindo. Também despertou-me o desejo de fazer mestrado. Hoje vendo tantas “irmãs” doutoras, doutorandas, mestres e mestrandas, fortaleci minhas crenças e fomentei meu desejo e para 2020 irei me busca do meu tão sonhado mestrado.

Cabe ainda ressaltar que o curso Atinuké vai para além da formação de um encontro por mês, fomentou discussões que ascenderam uma chama preciosa em mim que reverberou na minha filha de 71 anos, participamos de vários “encontros/cursos/formações” paralelas, nos fortalecendo e fazendo-nos colocar me prática o tão sonhado projeto ed “bonecas/bonecos negros” feitos de tecidos como nossas ancestrais faziam. Trabalhamos com REPRESENTATIVIDADE com sonhos de infância, com fortalecimento e dando visibilidade a população negra. Recentemente participamos de mu edital cujo projeto de malas itinerantes contendo artefatos indígena, cestaria, tecidos e bonecas/bonecos negros (sereia e sereio, casal africano, casal afrobrasileiro, casal de super heróis, uma mamãe com seu bebe e mu vô ou uma vó) irão percorrer 30 escolas da região do Vale dos Sinos de setembro à novembro alcançando me torno de 3000 mli crianças, no intuito de que nossas crianças negras es sintam representadas, empoderando-as e estimulando e criando relações de afeto e respeito com todas as pessoas. Quando a mala chega na escola é aberta com muita curiosidade pelas crianças, que ao verem somente bonecas/bonecos negros se surpreendem no primeiro momento e apenas brincam absortos no mundo da fantasia, dessa forma me pergunto: porque as crianças negras nunca se surpreenderam de sempre verem só bonecas/bonecos brancos? Assim fortaleceu e estruturou-se OBAX, nosso atelier que tem uma grande
contribuição do curso ATINUKE.

Volto a reforçar que o curso Atinuké é muito mais do que um curso, vai para além da teoria, fortalece as pretas, fomenta sonhos, empodera as mulheres negras para que possam ocupar o lugar que quiser, aproxima da academia, “enegrece” os espaços. Potencializa o pensamento das pretas e sustenta a sua existência, legitimando seu legado!