Experiência de Vida.
“Um olhar de uma mulher negra e sindicalista sobre a violência contra a mulher negra”.
Sou uma mulher negra que iniciou na militância como sindicalista em 1986 sem nenhuma experiência, onde era orientada a fazer o que os outros faziam. Participei de grupos de mulheres que sempre lutaram em prol de outras. Eno Fórum de Mulheres de Porto Alegre conheci as militantes nas quais me espelhei, como: Nelma Oliveira Soares, Maria Conceição Fontoura, Noelci (Nô) Homero, Ened Back, Télia Negrão, Alicia Peres e fui me apaixonando pela luta delas quando decidi: “vou lutar ao lado dessas guerreiras”. Sou uma das fundadoras do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, da ONG Coletivo Feminino Plural e, por anos, Conselheira Estadual dos Direitos da Mulher.
Sou sindicalista, onde nós mulheres entramos no sindicato sempre na suplência porque tem que haver mulheres na chapa, até nos destacarmos e mostrar ao que viemos. Depois com mais experiência alcançarmos a Executiva.
Numa entidade com 63 anos de fundação fui a primeira mulher negra a assumir a Secretaria da Mulher da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação RS por dois mandatos, onde agreguei muito conhecimento nas lutas sempre ao lado das companheiras mulheres.
Nas panfleteações nas portas de fábrica, nas greves, que, na grande maioria duravam de quatro a seis dias de lutas. Sempre nas lutas municipais, estaduais e nacionais. Sempre com uma bandeira de propósitos. Sempre pensando em nós, mulheres, principalmente porque somos as mais atingidas.
No nosso trabalho onde fizemos as mesmas tarefas que os homens e somos discriminadas por ganharmos menos que eles. Também sofremos assédio moral pelo qual passei por isso por ser mulher e negra. Porque a violência é institucional. Nos persegue a cada dia.
Somos mulheres fortes que só queremos lutar por nossos ideais. Nossas participações nos movimentos é essencial para continuarmos as lutas por melhores condições de trabalho, mais condições de moradia, direito à creche escola de turnos integral para nossos filhos. Direito de viver num mundo sem violência onde nossos jovens negros são os que mais morrem em violência institucional em nosso País. Queremos o direito de termos liberdade de ri e vir. Direito de sais de casa e poder voltar para nossas famílias. Direito de ter uma vida digna e principalmente a necessidade de Políticas Públicas para as Mulheres para que tenhamos mais condições de sermos inseridas na sociedade.
Quero agradecer ao João Marcelo (CUT), à Dedy Ricardo e Suelen Gonçalves e à entidade a qual represente, FTI. Da Alimentação do RS.
Gratidão às minhas colegas de curso e às orientadoras Nina Fola, Geane Vargas Escobar.
A nossa escrevivência não pode ser lida como história para “ninar os da casa grande” e sim para incomodá-los em seus sonos injustos (Carolina Maria de Jesus).
Porto Alegre, 04 de Setembro de 2019.