A missão de escrever um trabalho que conclua esta linda travessia que foi ser Atinúké, honrar quem veio antes, e a todas as minhas irmãs nessa caminhada é bastante difícil, pelo encerramento deste ciclo e por entender sobre a minha real capacidade de me pensar como intelectualidade negra.
A escrita sempre foi meu refúgio, de um mundo que se mostrava hostil e estranho. No papel colocava todas as dores, angústias, abandonos, solidões e incompreensões. Mas neste momento deposito minha gratidão, meu amor e coloco meu coração.
Como recurso utilizo uma técnica da psicanálise para desenvolver algumas reflexões carregadas de sentimento. A “Associação Livre” é deixar vir à tona tudo que está na mente. Mente essa que fervilha, que anseia.
A dureza da vida pouco me possibilitou entender que existiam outros caminhos, me acostumei com a dor, o sofrimento, a tristeza e as lágrimas. Gerações e gerações atravessadas por essa dureza, frieza, falta de comunicação. Cada um/uma sofrendo a sua dor calados, cumprindo a cartilha e não demonstrando fraqueza. Todas as tentativas de busca de amor só se tornaram mais dor, como se reafirmando que isso não era algo que me pertencia. Logo eu, sempre tão sentimental, tão coração e essa dureza foi se instalando fazendo eu perder a esperança.
Como assim “merecer carinho desde a gestação?” e como assim “intelectual negra?” Aqui, neste espaço sagrado, entre irmãs e encontros descobri que algo que só fosse possível para os outros, seria possivel pra mim, me preenchia, me abastecia e me reiniciava. Acada encontro contava os dias para estar aqui nesse ambiente seguro, que transbordava amor e generosidade. Aqui me encontrava e me reencontrava, sonhava, ria, chorava. Aqui descobri que mereço carinho, amor, que posso me olhar no espelho (mesmo que ainda seja difícil), que posso construir conhecimento, que posso fazer mais por minhas irmãs e meus irmãos, que posso fazer mais por mim, como mulher negra que merece carinho, que pensa e produz conhecimento.
O texto “Vivendo de Amor” de bell hooks com toda certeza, foi o que mais me impactou. Percorri com ela uma história que se parecia com a minha.
Naquele texto enxerguei minha mãe, senti raiva e com isso a entendi e a amei mais. Me entendi, entendi os meus.
Eu que vivo de amor, seja do excesso que sai de mim e vai para os outros, ou da falta, que é o que na grande maioria das vezes recebo, compreendi e mais do que isso, senti que pode ser diferente. Neste espaço, amei e fui amada, com todos os meus defeitos e qualidades e fiz o mesmo para com minhas irmãs. Me reconheci, me espelhei, me compreendi.
A força do amor é muito potente, no meu íntimo eu sempre soube disso, mas entendia que essa potencia não estava destinada a mim. Que não merecia, que não era digna. Que eu era muito menor que tudo isso.
Hoje com o término desse ciclo, saio fortalecida, com minhas feridas um pouco menos expostas. Com a certeza de que posso viver de amor, não aquele idealizado, romantizado e embranquecido. Mas aquele amor autêntico, genuíno, fraterno, ancestral e transformador. Que com ele eu posso me reconstruir e auxiliar outras e outros a se reconstruírem. Que posso pensar e criar em todos os lugares e que como mulher preta posso conquistar muito.
Agradeço imensamente a oportunidade, a acolhida, a generosidade, os ensinamentos que com toda certeza transformaram a minha vida, a minha história e trocaram minha lente de mundo.
Sou Atinúké!!!