Processo de autoconhecimento

Caroline Santos Lemos Schmitz

Porto Alegre, 7 de setembro de 2019.

Hoje encerro minha caminhada neste curso que eu tanto desejei participar. Neste tempo em que estive aqui pude me reconhecer em tantas mulheres, fortes como eu, corajosas como eu, produtoras de conhecimento como eu, transformadoras como eu, inovadoras como eu e negras como eu.

O meu processo de autoconhecimento e aceitação passou muito por aqui, e imagino que o mesmo deve ter acontecido com minhas companheiras de caminhada. Por mais que eu fraqueje nas minhas andanças por aí sei que nunca estou sozinha, que agora faço parte de uma rede, uma verdadeira irmandade, tantas outras mulheres que estão por aí fazendo vento como eu.

Para encerrar relembro um poema, que por mais que não seja de uma autora brasileira me inspira muito. Desde a primeira vez que il me apaixonei e de tempos em tempos tenho que reler para me sulear.

Ainda me levanto (Still | rise)
MayaAngelou

Podes inscrever-me na História
Em mentiras amargas e retorcidas.
Podes espezinhar-me no chão sujo
Mas ainda assim, como a poeira, vou-me levantar.
Minha impertinência incomoda?

Por que ficas soturno
Ao me ver andar como se tivesse em casa Poços de petróleo jorrando?
Como as luas ecomo os sóis,
Como aconstância das marés,
Como a esperança alçando voo,
Assim me levanto.

Querias ver-me alquebrada?
Cabeça pensa e olhos baixos?
Ombros caídos como lágrimas,
Enfraquecida de tanto pranto? Minha altivez o ofende?

Não leve tão a peito assim:
Eu rio como quem minera ouro
Em seu próprio quintal
odes fuzilar-me com palavras
Podes lanhar-me com os olhos
Podes matar-me com malevolência
Mas ainda assim, como o ar, eu me levanto

Minha sensualidade perturba?
Por acaso te surpreende
Que eu dance como quem tem diamantes
Ali onde as coxas se encontram?

Do fundo das cabanas da humilhação
Me levanto
Do fundo de um pretérito enraizado na dor
Me levanto
Sou um oceano negro, marulhando e infinito,
Sou maré em preamar
Para além de atrozes noites de terror
Me levanto
Rumo a uma aurora deslumbrante
Me levanto
Trazendo as oferendas de meus ancestrais
Portando o sonho e a esperança do escravo
Ainda me levanto
Me levanto
Me levanto